As notícias não são muito boas para os detentores da famosa “barriga de chope”. De acordo com novos parâmetros da Medicina, a circunferência abdominal passa a ser o indicativo mais preciso para a avaliação dos riscos de doenças cardiovasculares e metabólicas. Até então, a referência utilizada era o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). A novidade é que há um motivo além do estético para que as gorduras localizadas sejam exterminadas de vez.

 

As medidas indicadas por especialistas são 80 centímetros para mulheres e 94 para os homens. Mais preocupados com a balança do que com a fita métrica, poucos se preocupam com a gordura abdominal. Estudo realizado pela Federação Mundial de Cardiologia revelou que 66% dos brasileiros se cuidam com base no peso, 6% calculam o IMC e apenas 1% dá mais importância à saliência exacerbada da barriga.

 

Segundo a Federação, 58% dos médicos não reconhecem a importância da medida na prevenção de doenças cardíacas, enquanto 45% afirmaram jamais terem medido a circunferência da cintura dos pacientes, e 59% disseram que nunca foram informados sobre a relação entre a barriga e o coração.

 

Em Uberlândia, o cardiologista João Lucas O´Connell explicou que o comprimento da cintura está relacionado a problemas como o infarto, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e com doenças como a diabetes, a hipertensão e a alteração do colesterol no sangue.

 

A distribuição da gordura no corpo pode ser em forma de “pêra”, quando o acúmulo se dá no quadril, ou em forma de “maçã”, em que a gordura se concentra no abdômen. É por esse padrão que a pessoa atinge o nível de obesidade denominada “andróide”, que pode causar a síndrome metabólica com maior freqüência.

 

De acordo com O´Connell, a síndrome se dá quando a pessoa desenvolve alterações orgânicas como hipertensão, aumento dos níveis de glicose no sangue e o aumento dos níveis de triglicérides. Este conjunto aumenta ainda mais o risco de infarto. “Uma coisa puxa a outra. A pessoa que tem excesso de gordura abdominal leva à síndrome, que aumenta os riscos de infarto.”

 

Mesmo com a preocupação pela gordura acumulada no abdômen, O´Connell alertou que o cigarro é o pior fator de risco isolado no desenvolvimento de problemas cardíacos. Segundo ele, quem fuma tem 4,3 vezes mais chances de ter um infarto, enquanto para quem tem circunferência maior ou igual ao recomendado o risco é de 3,25%.

 

Data foi instituída pela OMS

Hoje é comemorado o Dia Mundial do Coração. A data instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em todo último domingo de setembro chama a atenção para as mortes relacionadas a problemas cardíacos. De acordo com a OMS, uma média de 17,5 milhões de pessoas morre todo ano vítimas de doenças no coração. Cerca de 600 mil destes óbitos são registrados no Brasil.

 

Quanto mais fatores associados, pior para a saúde

Além do tabagismo, os principais fatores de risco são o diabetes, a hipertensão, os níveis de colesterol e o histórico familiar. “Os fatores se somam. É claro que o ideal é não ter nenhum, mas a partir de três indícios o risco de desenvolver a síndrome metabólica e infarto é cinco vezes maior”, afirmou o cirurgião João Lucas O´Connell.

 

Pode ser, por exemplo, que um fumante com diabetes e colesterol alto nunca tenha nada, ao mesmo tempo em que um atleta pode morrer do coração. “Mas a probabilidade é maior quando os fatores de risco se somam. É a mesma coisa de um acidente. Qualquer um pode morrer atropelado, mas aquele que anda de bicicleta todos os dias, sem capacete, sem nada, as chances aumentam muito mais”, disse o médico.

 

A idade também influencia, mas não pode ser tida como regra geral. Nos homens, os riscos aumentam a partir dos 45 anos e nas mulheres depois dos 55 anos. Segundo o especialista, isto não significa que uma pessoa com 30 anos não possa infartar.

 

A vantagem feminina em 10 anos é “culpa” dos hormônios. O´Connell afirmou que estas substâncias protegem a mulher até a menopausa, fase em que ela passa a correr os mesmos riscos que os homens.

 

Procura por atendimento não chega a 2% do total

Na rede pública municipal de Uberlândia, os atendimentos realizados em pacientes com problemas cardíacos por ano não chegam a 2% do total. De acordo com a Secretaria de Saúde, dos 931.110 casos registrados nas Unidades de Atendimento Integrado (UAI) em 2007, 13.641 (1,49% do total) estavam relacionados com problemas no coração. Até junho deste ano, a proporção foi de 1,19% para 519.296 mil registros, o equivalente a 4.996.

 

De acordo com o coordenador-geral da rede de saúde Adenílson Lima e Silva, os programas de prevenção realizados na rede básica (PSF e UBS) foram determinantes para a baixa taxa de atendimento por problemas cardíacos. “Existe uma tendência de queda e a prevenção é determinante para que, no futuro, a quantidade de casos seja ainda menor.”

 

Os dados apontam que o que mais leva as pessoas ao pronto-socorro é a hipertensão: representaram 4.357 dos 4.996 dos atendimentos registrados no primeiro semestre de 2008. Durante todo ano passado, 11.904 casos foram motivados por alta da pressão.

 

Um dos principais fatores de risco para a hipertensão é a obesidade. Levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia revela que, em média, 46% das pessoas que passaram nos serviços de atendimento médico primário no Brasil estão acima do peso ou obesas. No México, a média é 54% e nos países europeus, 38%.